Tópico: Economia

Sentença do BCE: os assalariados que paguem

Manuel Raposo — 1 Julho 2023

Os suspeitos do costume, em ambiente volátil. Bancos centrais do Japão, EUA , Europa e Inglaterra reunidos em Sintra

Fiel ao preceito de “primeiro manducar, depois filosofar”, o fórum do Banco Central Europeu reunido em Sintra começou com um jantar no dia 26. No encerramento, dois dias depois, a presidente Christine Lagarde não deixou margem de dúvida acerca de quem deve pagar os custos da inflação e do tem-te-não-caias da economia europeia: os trabalhadores assalariados. As piores previsões feitas no final do ano passado confirmaram-se por inteiro: retrocesso económico, subida dos preços, desvalorização dos salários. Mas houve quem ganhasse: o grande capital.


A extorsão dos países dependentes

Editor / Xin Ping — 28 Maio 2023

Paul Singer, magnata da Elliott Capital Management, especialista em extorsão em qualquer parte do mundo

O “mistério” da pobreza recorrente dos países dependentes, ou das suas sucessivas insolvências, fica mais claro quando se entende o mecanismo de extorsão sistemática praticada contra eles pelo capital imperialista. A grande finança tem neste processo um papel determinante. Debaixo da designação respeitável de “fundos de investimento” abrigam-se verdadeiras equipas de profissionais do crime organizado (dotadas de especialistas de toda a natureza: jurídica, financeira, política…) que avaliam as presas e decidem quando e como as atacar. Merecem por isso a designação mais justa de fundos abutres.


Crise financeira sobre fundo de guerra

Manuel Raposo — 14 Maio 2023

13 de março. Polícia controla acesso ao SVB. Clientes correram a levantar depósitos após colapso do banco.

Desde começos de março, quando faliu o Silicon Valley Bank, repetem-se as declarações dos poderes públicos afiançando a segurança do sistema financeiro norte-americano e europeu. Os factos, porém, mostram que as ameaças de falências persistem sem que os remédios produzam as melhoras desejadas. De facto, os avisos que apontam para um mal de raiz afectando todo o sistema financeiro ocidental, e possivelmente mundial, afirmam sem sombra de dúvida que o problema ultrapassa em muito os colapsos até agora verificados. 


A guerra, para além das armas

Editor / Dominique Delawarde — 19 Abril 2023

A velha divisão imperialista do mundo está posta em causa

A insistência com que os governos ocidentais e todos os grandes meios de comunicação falam, ao detalhe, da guerra na Ucrânia (desde as operações militares às minúcias dos armamentos) vai a par de um silêncio comprometido acerca das alterações na paisagem económica do mundo, que a guerra não desencadeou em primeira mão, mas veio incrementar. O potencial e efectivo crescimento do conjunto de países que não alinhou nas sanções do Ocidente contra a Rússia contrasta com o marasmo e o retrocesso verificado nas economias ocidentais, como ainda recentemente o insuspeito FMI não pôde deixar de revelar em números. Que importância tem esta evidência?


O mundo já mudou

Editor / O Comuneiro — 11 Abril 2023

Vida Justa. Manifestação em Lisboa, 18 março 2023. Homenagem à Comuna

À vista de uma catástrofe financeira largamente anunciada, o Ocidente aproxima-se de um abismo de profundidade e de contornos ainda por determinar, mas que não será seguramente coisa ligeira. O desfecho que se pode antever da contenda que se trava entre o sistema imperialista ocidental e o resto do mundo terá certamente uma dimensão histórica. Querer manter equidistância e indiferença perante este confronto, será sinal de inconsciência, de má-fé ou de diletantismo — e só resultará em impotência política. O mundo já mudou, só não se sabe em que exacta medida.


A exploração de trabalho infantil nos EUA

Editor / Workers World — 17 Março 2023

Crianças migrantes a serem fiscalizadas pela guarda fronteiriça dos EUA no Texas. Só nos últimos dois anos, 250 mil menores não acompanhados entraram nos EUA (New York Times, 25.02.2023)

Como a base da civilização é a exploração de uma classe por outra classe, alertava Friedrich Engels em 1884, cada progresso da produção é simultaneamente um retrocesso na situação da classe oprimida. Poderia pensar-se que, século e meio volvido, tal drama tivesse sido ultrapassado e que o “crescimento económico” proporcionasse óbvio bem-estar às populações colocadas na senda do “progresso”. O dia a dia dos trabalhadores de hoje, em todos os cantos do planeta, desmente tal ideia. Mas a denúncia recente de exploração de mão-de-obra infantil nos EUA vem dar ao caso uma outra dimensão.


Uma dívida que não é nossa, uma guerra que não queremos

Editor — 13 Outubro 2022

Quer o Orçamento do Estado quer o “acordo de rendimentos” firmado há dias na Concertação Social consagram a perda de poder de compra dos trabalhadores diante da inflação. Nem os salários são aumentados ao nível da carestia, nem a especulação com os preços é travada. Esta espoliação marca a linha política do Governo e mostra — para lá de todas as “ajudas” e de todo o palavreado — quais as classes sociais que o Governo sacrifica no altar da crise económica.


O significado de “reconstruir” a Ucrânia

Editor / Michael Roberts — 23 Setembro 2022

Gigantes transnacionais do agronegócio — Monsanto, Cargill, DuPont —tomam conta de todo o sistema agrícola da Ucrânia

As notícias e discussões sobre a guerra na Ucrânia, essencialmente centradas sobre os confrontos militares e políticos, têm deixado na sombra operações de outra ordem, decorridas nos bastidores internacionais do poder, que são cuidadosamente furtadas à opinião e ao julgamento públicos. Estão neste caso as repetidas reuniões à volta da “recuperação” ou da “reconstrução” da Ucrânia. Estas iniciativas, apresentadas como gestos de solidariedade e de apoio, mal mascaram as ambições económicas do capital ocidental a respeito dos recursos naturais da Ucrânia, entre eles a sua imensa riqueza agrícola.


Circo sem pão

Editor — 15 Setembro 2022

Ainda nos falta suportar quase uma semana de reportagens até ao funeral de Isabel II. O ror de horas de transmissões televisivas, o batalhão de repórteres vestidos de luto especialmente enviados para debitarem todas as banalidades, as louvaminhas a uma aristocracia absolutamente corrompida, a convocação de testemunhos bacocos sobre as finuras do protocolo ou as virtudes da monarquia — tudo isso junto é revelador do estado de morte cerebral das classes dominantes do país. Mas é também o circo com que contam distrair a populaça (por quanto tempo?) da guerra, do abismo económico, da degradação da vida diária, da falta de futuro.


O estado da nação: omissões de um debate

Urbano de Campos — 28 Julho 2022

Pobreza atinge 20% da população portuguesa. Um terço tem emprego estável. Só 13% não têm emprego

António Costa e o Governo saíram por cima no debate parlamentar sobre o estado da nação. Não foi difícil. Apesar de todas as críticas, as diversas oposições não beliscaram o nervo da situação presente: a calamidade que atinge as classes trabalhadoras em resultado da crise económica e da guerra. Com efeito, não é “o país” em geral — como se tornou cómodo dizer na linguagem de consenso das lides parlamentares — que é fustigado, mas sim as classes mais pobres, mais penalizadas e mais desprezadas da sociedade.