Banditismo político, desemprego e salário mínimo

Pedro Goulart — 25 Março 2013

Sobre a necessidade de aumento do salário mínimo nacional, defendida por trabalhadores e sindicatos (e até por algumas confederações patronais), um conjunto de indivíduos têm-se pronunciado de forma nojenta contra esse aumento, embora todos eles recebam valores mensais várias vezes superiores aos fixados 485 euros.
Passos Coelho afirmava recentemente na Assembleia da República que, para diminuir o desemprego, seria necessário reduzir o SMN e não aumentá-lo. Aliás, para António Borges, conselheiro do governo, “o ideal era até que os salários descessem como solução para resolver o problema do desemprego”. Também o economista Vítor Bento, conselheiro de Cavaco Silva, e o capitalista Belmiro de Azevedo, líder histórico da Sonae, afinam pelo mesmo diapasão, dando uma ajuda à orquestra que toca contra o salário mínimo. Belmiro de Azevedo, defende salários mais baixos, sob o pretexto de que sem mais mão-de-obra barata não há emprego para todos!

E quanto aos brutais valores do desemprego, segundo dados oficiais, estes situar-se-ão nos 18,9%, em fins de 2013. Mas a taxa real de desemprego, que também abrange aqueles que já desistiram de procurar oficialmente emprego e os que apenas vivem de “biscates”, estará, efectivamente, próxima dos 28%. Isto é, no fim deste ano, cerca de um milhão e seiscentos mil portugueses estarão desempregados. Mais: em apenas três anos de um governo PSD/CDS a taxa real de desemprego subirá cerca de 10%, envolvendo cerca de 600 mil trabalhadores.

Embora sobre a questão do salário mínimo, assim como na ênfase a dar ao crescimento económico, as classes dominantes apareçam divididas, as posições contra o aumento do salário mínimo são intransigentemente defendidas por alguns sectores do capital e pelos seus lacaios no aparelho de estado e na comunicação social, e assentam na necessidade de um empobrecimento generalizado dos portugueses, assim como no imperativo do “livre funcionamento do mercado”. Mas justificam-se também, certamente, com um estudo (suspeito) encomendado pelo governo PSD/CDS a investigadores das Universidades do Porto e do Minho, que viria a revelar-se errado, quando apurados os resultados do desemprego, em 2012: a verificação de um forte aumento do desemprego, apesar de não ter sido actualizado o salário mínimo. Como se, numa economia capitalista, a um abaixamento do rendimento das famílias não correspondesse um efectivo abaixamento do consumo, uma diminuição da produção e, também, um maior desemprego!

Patrões e respectivos lacaios (talvez convencidos que este é o melhor caminho para salvar o capitalismo da grave crise em que está mergulhado, tentando que sejam os trabalhadores a pagar por ela), pelas suas responsabilidades, pelo seu falar desapiedado, pelas graves decisões tomadas, pelo saque que têm levado a cabo, afectando fortemente as nossas vidas, conduziram aceleradamente os trabalhadores e o povo português ao desemprego, à fome e à miséria. Os mandantes e executantes desta política têm sobressaído, sobretudo, por um comportamento a que podemos chamar, com toda a propriedade, de banditismo político. Há que correr urgentemente com eles!


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