Sem pejo

17 Julho 2012

A Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, presidida pelo cardeal Ângelo Correia, promoveu em 25 de Junho o Fórum Económico Portugal-Iraque. Objectivo: fazer negócio.
O ministro iraquiano da Construção e Habitação, Al-Derajy, acenou com 150 mil milhões de euros de investimentos e, bom comerciante, disse que quem chegar primeiro ganhará mais. Tanto bastou para que o secretário de Estado das Obras Públicas, Sérgio Monteiro, visse a ocasião de as empresas lusas fazerem no Iraque as obras que não fazem em Portugal por força da crise. E para que o ministro da Economia, Santos Pereira, destacasse a oportunidade de Portugal se tornar um “eixo geoeconómico estratégico” (sic) e quiçá sair da fossa.

Idiotices à parte, o que é hoje o Iraque? É um país fulminado por uma guerra criminosa, que fez mais de um milhão de mortos e 5 milhões de refugiados; governado por uma ditadura assente em divisões sectárias e em golpes de mão, que condenou à morte 1200 pessoas e as executa às dezenas de cada vez. É um território ocupado por 50 mil soldados estrangeiros e policiado, à margem de qualquer lei, por dezenas de milhares de gorilas privados. Um país desfeito física e socialmente, tornado fonte de lucros para quem o destruiu.

Eis o regime “seguro” que o ministro Al-Derajy garantiu aos investidores portugueses. Eis o país em que o ministro Santos Pereira quer aplicar a “excelência” da tecnologia portuguesa – na construção, nos recursos hídricos e na energia, precisamente o que a guerra cuidou de arrasar.

O videirinho Ângelo Correia e o apalermado Santos Pereira continuam a obra de Durão e de Portas, em 2003, no apoio a Bush e na apologia da guerra. São a imagem de uma burguesia sedenta de lucro e que não olha a meios. Se cá dentro a sua sede de exploração tem de se recobrir (ainda) com véus de legalidade e de democracia, lá fora não tem que ter disfarces. Como no tempo do mais desbragado colonialismo.


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