As festas de caridade e a “compaixão” dos ricos
Pedro Goulart — 18 Julho 2011
Nos últimos anos tem vindo a aumentar a olhos vistos na sociedade portuguesa o enorme fosso que separa os ricos dos pobres. As condições económicas e políticas têm sido propícias a um maior grau de exploração das classes trabalhadoras e a um crescente acumular de capital nas mãos de um reduzido número de poderosos. Nesta linha, e a pretexto da dívida, o governo PSD/CDS vem agora taxar de forma pesada e dita extraordinária os rendimentos do trabalho, isentando a generalidade dos rendimentos do capital.
Claro que, ao mesmo tempo que os capitalistas vão embolsando os seus lucros, tem sido notória a crescente proletarização de diversas camadas da população, que antes gozavam de diversos privilégios, habitualmente reservados às classes burguesas. E,
perante a crueza dos factos, que tem arrastado muita gente para a pobreza e para a miséria, alguns dos que dedicaram a sua vida a locupletar-se com os proveitos desta situação, beneficiando do fabrico de mais pobres, vêm-se mostrando muito activos na prática da esmola, da caridadezinha. Umas vezes por vaidade, outras para se promoverem, outras, ainda, com medo que os explorados e os pobres se revoltem a sério.
Ele é o golfe, elas são as festas de casinos e de debutantes, eles são os concursos e festas nas televisões, assim como as recolhas de alimentos nos supermercados, tudo reclamando-se de solidariedade com os mais pobres. Geralmente, com patrocínio de grandes empresas, dos maiores exploradores e dos poderosos.
A estas encenações e hipocrisia não tem faltado o Presidente da República, um dos responsáveis pela actual situação de exploração e de miséria em que vivem grande parte dos portugueses. É neste contexto que Cavaco Silva e alguns bispos, assim como diversos serventuários do sistema, têm vindo a apelar com insistência para a “responsabilidade social” das empresas e a procurar empurrar os trabalhadores para as diversas instituições de caridade.
O que pretendem os governantes
Contudo, o que os trabalhadores e os pobres mais precisam hoje não é da boa vontade dos empresários e dos poderosos, da sua caridadezinha. Não é, sobretudo, de serem atirados para a sopa dos pobres ou para a ajuda das Misericórdias. Precisam é que não os roubem nos seus salários e que os respeitem nos seus direitos ao emprego, à saúde, à educação e à segurança social. Se tais direitos forem respeitados, a tão propagandeada solidariedade promovida pelos ricos será desnecessária.
Este tipo de “ajuda”, incentivada pela casta governante para os trabalhadores e os pobres, há que denunciá-la, por aquilo que realmente representa: uma tentativa da gente do capital e dos seus lacaios de evitarem a revolta dos explorados e, assim, por mais algum tempo, prosseguirem o statu quo do capitalismo, com o seu cortejo de dependências várias, repressão, fome e miséria.
Comentários dos leitores
•afonsomanuelgonçalves 24/7/2011, 19:51
É, indesmentível, que o texto revela toda a hipocrisia que está subjacente a este tipo de gernerosidade que a classe média se dispôe a levar à prática a caridade que, por sua vez. a pequena-burguesia urbana adere com tanto entusiasmo nos super-mercados e nas avenidas novas. Não admira que, depois de amansados os trabalhadores que produzem riqueza e que servem abnegnadamente os seus patrões da classe média e pequena burguesia alta, se mostem tão envolvidos nestas iniciativas. No tempo do fascismo esta atitude "altruísta" era exclusiva da "tias" do regime. Agora a caridade democratiza-se e atinge todos os consumidores dos super-mercadados urbanos. A "solidariedade" pelos mais desfavorecidos enche os corações de alegria desta gente que tem um carro em 2ª mão e passa férias no mediterrâneo com cartão visa.
Marx definiu os pobres «como a putrefacção passiva das camadas inferiores da antiga sociedade». E agora, são eles o germe da revolta contra o poder capitalista? Lenine, Staline e Mao dizem-nos muita coisa sobre este assunto. Se os seus ensinamentos forem dispensados regressamos ao rivavalismo dogmático do anquilosado e patético 25 de Abril "revolucionário".
•joaquim pina 11/9/2011, 20:25
Como bons cristãos, estes novos ricos gostam muito das festas de caridadezinha. Como no tempo do fascismo as "senhoras" da Caritas, Cruz Vermelha etc não param... Agora com o apoio total do "católico" Cavaco e da D. Maria... É altura dos "pobres" e explorados darem uma resposta cabal a este tipo mesquinho de sociedade.