O MV em Coimbra, para dar voz ao movimento
Renato Teixeira — 9 Novembro 2007
A concluir uma ronda pelo Norte de lançamento do número um do Mudar de Vida, a paragem em Coimbra, no dia 1 de Novembro, foi frutuosa. Precedida por um jantar de confraternização, a sessão confirmou a tendência das anteriores: para os presentes, o capitalismo neoliberal transforma o mundo num palco cada vez mais desigual e tendencialmente genocida. Como podemos aceitar uma sociedade que faz da propaganda o seu espectáculo, onde a mentira aparece e a verdade padece, qual voz de um “grande irmão” omnipresente, exprimindo uma opinião única, dominante e incontestável em praticamente todos os órgão de informação e comunicação. A divergência é psiquiatrizada, foi restaurado o delito de opinião, refundaram-se as escutas, as vigilâncias, as conversas em surdina…
Alguns dos que estiveram connosco em Coimbra tinham estado com os 200 mil do Parque das Nações, contra a flexi-segurança e contra o embuste da exumação do Tratado Constitucional Europeu.
Soubemos que nas fraldas de Coimbra, num dos bairros operários que diariamente trabalham para servir a corte pré e pós-doutoral que a universidade da cidade alimenta, vive-se há anos à espera que se resolvam as burocracias que impedem, entre outras coisas, o direito de livre associação e o direito aos serviços municipais, como é o caso dos cantoneiros e dos serviços de limpeza. Aí conversámos com a comissão instaladora da Associação de Moradores e nos disponibilizámos para voltar, em breve, para dar uma ajuda na luta pela habitação social digna e com direitos.
Por último, e ainda em Coimbra, o debate teve o contributo fundamental de uma sindicalista, professora, que como tantos outros tem estado na maior parte das mobilizações contra o governo Sócrates, e que lamenta a influência, cada vez mais amorfa, da esquerda do sistema nos sindicatos.
Entre alguns activistas do BE e do PCP que apareceram, dois sentimentos distintos foram manifestados. Em alguns, a indisfarçável alegria de verem nascer um novo projecto aglutinador da esquerda anti-capitalista; noutros, o também indisfarçável desconforto de quem sabe que este tipo de movimento só tem condições para surgir nos escombros da sua inércia conformista, eleitoralista e reformista.
Ficou claro que voltaremos, para continuarmos a falar de política e a cimentar esta amizade combativa.