Liberdade para Cesare Battisti
Destino do activista italiano nas mãos de Lula da Silva
Carlos Completo — 3 Novembro 2010
Como o MV noticiou por mais de uma vez, Cesare Battisti, ex-militante político da esquerda revolucionária italiana, está ilegalmente preso no Brasil, há quase quatro anos. As forças mais conservadoras e reaccionárias deste país pretendem entregá-lo ao fascistóide Berlusconi.
Battisti foi, na década de 70, sucessivamente, militante do Partido Comunista Italiano, da Lotta Continua, da Autonomia Operária e da organização Proletários Armados para o Comunismo. Foi, várias vezes, preso em Itália, abandonando a luta armada em 1978. Conseguiu fugir (em 1981) e exilou-se, passando, depois, “numa fuga sem fim”, por vários países como a França e o México, onde escreveu um livro e exerceu várias actividades culturais. Foi condenado a prisão perpétua em Itália, por via de um “arrependido” utilizado pela justiça italiana.
Quase sempre perseguido, pelo seu passado político, fugiu posteriormente para o Brasil, onde foi preso em 2007, tendo apresentado, em Junho de 2008, um pedido de refúgio ao Comité Nacional para os Refugiados.
Nos inícios de 2009, saudávamos a concessão de asilo político a Cesare Battisti justamente decidida pelo governo brasileiro. Na altura, o ministro brasileiro da Justiça justificava a concessão de asilo com “um fundado temor de perseguição” por parte do estado italiano. De facto, o comportamento do aparelho jurídico deste estado durante as últimas décadas não tem sido de molde a sossegar nenhum dos antigos militantes da esquerda revolucionária italiana.
Contudo, por pressão do governo italiano e sob pretexto de “controlo judicial de actos de administração”, o Supremo Tribunal Federal do Brasil (bem conhecido pelas suas posições conservadoras), decidiu intervir no processo de extradição de Cesare Battisti, optando pela entrega deste preso político a Itália, embora ficando a última palavra sobre a questão reservada ao presidente brasileiro. E, sem qualquer cobertura legal, Cesare continua preso neste país, à espera de uma decisão de Lula.
Será que o presidente Lula, que termina o seu mandato em 31 de Dezembro próximo e, certamente, se recorda do seu passado de luta, terá a necessária coragem de conceder asilo político a Cesare Battisti antes de abandonar a presidência? Defendemos empenhadamente que sim e que Cesare Battisti termine agora no Brasil, em liberdade, a sua “fuga sem fim”.
Comentários dos leitores
•Ismael Pires 3/11/2010, 22:53
Desobedecer contra as injustiças.
Um colectivo ecologista que se opõe ao projecto do TGV (comboio de alta velocidade) basco conseguiu de uma forma esteticamente muito bela chamar a atenção das populações para o impacte ambiental negativo que o comboio de alta velocidade irá ter sobre os ecossistemas.
As linhas de alta velocidade são altamente agressivas para o ambiente e a paisagem. Implicam túneis, desvios de linhas de água, grandes movimentações de terras, construções de acessos e estaleiros para maquinaria pesada e produzem enormes quantidades de resíduos quando da sua construção. Toda a natureza em redor sofre profundas e irreversíveis alterações.
No passado Domingo pela manhã os rios que atravessam vilas e cidades bascas como Durango, Iruñea, Bilbao, Galdakao, Getxo, Lemoa, Zornotza, Ugao, Zeberio, Abadiño, Arrigorriaga e Basauri, Gipuzkoa, Donostia, Tolosa, Oiartzun, Azkoitia, Oñati, Zestoa e Aranzazu apareceram inexplicavelmente coloridos por um verde intenso e muito belo que se pode ver nas muitas imagens que circulam pela Web.
O milagre foi explicado horas mais tarde em conferência de imprensa dada pelo Movimento Mugitu (M!M) que se opõe ao projecto do TGV no País Basco. De cara tapada para ocultar a sua identidade, os membros deste colectivo que não tem sedes, não aceita dirigentes ou responsáveis e segue os princípios da não-violência declararam que se tratou de uma acção de desobediência civil para denunciar os graves impactos sobre as bacias hidrográficas e os ecossistemas caso o TGV avance.
O milagre dos rios e fontes coloridos de verde ficou a dever-se à fluoresceína sódica, um corante inócuo para o ambiente que se utiliza em Nova Iorque para dar uma coloração verde ao rio quando se festeja o São Patrício. Os activistas do Movimento Mugitu despejaram de uma forma concertada e em simultâneo este corante nos rios do País Basco. Fizeram os rios ficar verdes para evitar que no futuro fiquem negros. E deram este espectáculo inédito e belo aos seus concidadãos e ao Mundo.
As imagens:
Bilbao
http://boltxe.info/?p=20628
Iruñea (Rio Arga)
http://www.ekinklik.org/index.php?option=com_datsogallery&Itemid=30&func=viewcategory&catid=203
O Mugitu explica:
http://www.gara.net/paperezkoa/20101026/228403/es/Mugitu-explica-tintado-rios-una-accion-desobediencia-contra-TAV
•António José R da Costa 4/11/2010, 23:48
O presidente Lula vai ter que decidir, concedendo asilo político. Se o não fizer, fica claro a sua falta de coragem em enfrentar as forças mais revanchistas do capitalismo.
•afonsomanuelgonçalves 6/11/2010, 10:03
Correctíssima a interpretação que António Costa faz acerca da decisão a ser tomada pelo actual Presidente do Brasil, mas não deixa de ser um pouco surpreendente a lentidão com que o Presidente está a tratar a escandalosa situação em que se encontra Cesare Battisti.
A falta de coragem já se manifesta de forma preocupante.