18 de Outubro
22 Outubro 2007
Foi com evidente incómodo que a generalidade da comunicação social se referiu à manifestação de 18 de Outubro. Percebe-se. Não é todos os dias, em qualquer país do mundo, que 200 mil pessoas descem à rua para pôr em causa o governo. O mar de gente manchou a festa de Sócrates no Parque das Nações, dando a ver aos convidados os limites do poder de persuasão do primeiro ministro português.
Duzentos mil trabalhadores na rua contra a política de Sócrates (versão portuguesa da linha europeia de ataque ao mundo do trabalho) é pôr em evidência que os acordos sobre flexi-segurança e sobre o tratado reformador da União Europeia foram conseguidos contra a vontade da população trabalhadora. Pode o governo (todos os governos europeus) festejar com litros de espumante as vitórias obtidas lá por cima – cá por baixo há um mundo que despreza esses acordos e mostra vontade de lutar contra as suas consequências.
Numa completa inversão de valores – estão no seu papel… – governo e comunicação social enalteceram o acordo dos sindicatos europeus (UGT incluída) sobre flexi-segurança, e quiseram provar que a CGTP ficara “isolada” por não ter alinhado na canalhice. Venha mais deste “isolamento” que traz à rua tanta gente e recusa a miserável subserviência dos caciques sindicais europeus diante do capital. Ficámos todos bem melhor na companhia dos grevistas franceses que pararam os transportes e dos trabalhadores alemães que ameaçam entrar em greve.
Parece retomar-se, com a manifestação de 18 de Outubro, a via ascendente do movimento de protesto dos trabalhadores portugueses iniciada no final de 2006 e prosseguida, com altos e baixos, ao longo deste ano. É um bom sinal, mas não basta para travar a ofensiva do patronato, como sabemos de vezes anteriores. Nos protestos e nas lutas que ocorrem por todo o país, sobretudo nas empresas, há fraquezas que não podem ser escondidas. A maior parte das acções de resistência ficam-se, na melhor das hipóteses, pelas meias vitórias. Os despedimentos colectivos, esses então, mostram-nos quase diariamente o espectáculo deprimente de mulheres e homens que se resignam a ir para a rua aparentemente sem recurso – a não ser esperar por longos e ineficazes processos que se arrastam nos tribunais.
Faz falta mais solidariedade. Falta apoio mútuo entre trabalhadores A disposição de resistir em cada empresa será maior se puder contar com a ajuda (moral e, porque não, material) de outros companheiros de classe. Está nas mãos dos trabalhadores quebrar o isolamento de empresa para empresa, de forma a fustigar o patronato em várias frentes.
O movimento de protesto nas ruas atingiu um ponto alto em 18 de Outubro. Mas precisa de ser acompanhado por acções equivalentes nas empresas, de modo a ganhar bases cada vez mais firmes e a alargar a sua capacidade de mobilização. Só assim o protesto de massas na rua corresponderá a uma efectiva capacidade de resistência aos ataques do governo e dos patrões.
A capacidade negocial que a direcção da CGTP possa ter ganho com o êxito da manifestação nada representará para o efeito de travar a ofensiva do Capital contra o Trabalho se não se apoiar num combativo movimento na base, enraizado nas empresas.
Comentários dos leitores
•Francisco d'Oliveira Raposo 24/10/2007, 18:57
Saudo a posição do "Mudar de Vida". Creio que a proposta prática que faz é essencial para "Mudar de vida" nos locais de trabalho.
O apoio solidário reforça laços, promove troca de experiências e eleva o nivel de consciência entre os trabalhadores
E disso necessitamos como do pão para a boca.
•Moriaem 25/10/2007, 16:05
Para além do 'incómodo' mostraram tb a posição. Basta ver as imagens e o que as pessoas dizem. É que se a maioria das pessoas não vêem ou não querem ver, há muitos que estão atentos.
http://notasdokaos.blogspot.com/2007/10/o-pblico-informao-enganadora.html#links
http://opafuncio.blogspot.com/2007/10/imagens-subliminarmente-enganadoras.html
Peço desculpa pelos link's mas são capazes de valer a pena.
abraço e até dia 1.