Mais de 4 milhões de desempregados em Espanha
Manuel Raposo — 27 Março 2010
O desemprego em Espanha ultrapassou em Janeiro os quatro milhões de trabalhadores. Se porém forem tidos em conta os números do Inquérito à População Activa (EPA) o desemprego terá atingido uma cifra superior a 4.300.000 pessoas no final do ano passado. De Dezembro para Janeiro foram registados mais 124.890 desempregados o que significa mais de 4 mil pessoas despedidas por dia.
Além disso, o número de contratos de trabalho celebrados em Janeiro deste ano é muito inferior aos dos anos anteriores, o que confirma a diminuição da actividade económica. Dos cerca de um milhão de contratos celebrados em Janeiro apenas 9% são contratos fixos, facto indicador de que o patronato aposta no trabalho a prazo.
O número de pessoas que passaram a depender de subsídios diversos aumentou de um milhão e meio, em 2007, para mais de 3 milhões, em 2009. O maior crescimento verificou-se no subsídio de desemprego que multiplicou por três. Mesmo assim, mais de um milhão de pessoas não beneficia de nenhum tipo de apoio; e cerca de milhão e meio recebe, em média, 400 euros por mês (sendo o salário mínimo, em 2009, de 624 euros).
O sector mais atingido é o dos serviços (comércio, hotelaria e actividades administrativas), que representa 82% do desemprego, seguido da construção. O crescimento dos despedimentos verifica-se em todo o território, mas é mais acentuado na Catalunha e na Andaluzia.
Depois de, no Verão passado, o governo ter indicado uma redução do desemprego em 14 mil pessoas, os valores voltaram a subir mostrando que se tinha tratado apenas de uma pontual variação sazonal.
Os dados mais recentes mostram que prossegue a tendência para o crescimento do desemprego, prevendo-se que continue pelos próximos meses.
Outro dos dados da EPA que revela a situação de fundo da sociedade espanhola é o número de lares em que todos os membros activos estão desempregados. Este valor atingiu, em meados de 2009, antes portanto dos valores mais recentes, quase 1.200.000 lares.
Um site espanhol de procura de emprego, contestando o optimismo do governo, comentava, em Outubro de 2009: “O mal-estar, o desemprego, a falta de dinheiro e de recursos sentem-se à flor da pele”.
Manifestações na Andaluzia
As duas principais centrais sindicais espanholas (as Comisiones Obreras e a UGT) marcaram em conjunto para final de Fevereiro manifestações em todas as capitais da Andaluzia contra a proposta do governo de redução dos direitos dos pensionistas. O pretexto invocado pelo governo é a “viabilidade” do sistema de segurança social. Com essa ameaça, dizem os sindicatos, cria-se o alarme na população e faz-se o jogo dos grupos financeiros e das seguradoras que querem converter o sistema público de segurança social num grande negócio lucrativo para os privados.
As CO põem em causa a afirmação governamental de que o sistema está em risco, apontando o facto de haver um fundo de reserva de mais de 68 milhões de euros e denunciando os propósitos de ser feito uso desse fundo para efeitos especulativos. Apontam ainda o facto de a economia paralela em Espanha representar 20 a 25% do Produto Interno Bruto e de essa ser uma fonte onde devem ser buscados mais recursos para a segurança social.
As centrais sindicais exigem também a melhoria das pensões dos trabalhadores rurais (com peso significativo na região) e dos empregados domésticos, integrando-os no regime geral da segurança social; e reclamam a redução do tempo de trabalho para as profissões penosas.