Livraria parisiense atacada por grupo sionista armado
Três perguntas a Olivia Zemor, animadora da livraria Résistances e do movimento de apoio à Palestina
Manuel Vaz — 12 Julho 2009
Um comando de cinco homens encapuzados e declarando pertencer à Liga de Defesa Judaica (LDJ) atacou no passado dia 3 de Julho a livraria Resistances [Resistências], situada no 17.° bairro parisiense, ocasionando várias destruições materiais. Não é a primeira vez que esta livraria é objecto de agressões orquestradas pelas organizações sionistas armadas, como é o caso da LDJ, organização terrorista proibida em… Israel e… nos Estados Unidos da América!
A livraria, aberta em 2007, desenvolve uma vasta actividade de apoio ao mundo árabe e à Palestina em particular. Na véspera da agressão, tinha acolhido nas suas instalações uma conferência de Mahmoud Suleiman, presidente da câmara da aldeia de Al-Masara, na Palestina ocupada.
No dia 8 de Julho, cerca de 300 pessoas concentraram-se junto às instalações da livraria para protestarem contra agressão. O protesto, organizado pelos próprios animadores da livraria, contou com o apoio de vários partidos e associações empenhados na luta anti-racista e no apoio à causa palestiniana. Certos oradores lamentaram a ausência no acto de personagens públicas, tais como Bertrand Delanöe, presidente socialista da câmara de Paris, ou da deputada do bairro, De Panafieu, do partido governamental UMP, ou ainda… de Fréderic Mitterand, o recém-nomeado ministro da cultura.
Todos insistiram sobre a necessidade de pôr termo às actividades terroristas das milícias
sionistas e exigiram que o governo dissolva a Liga de Defesa Judaica (LDF), principal organização implicada nas agressões mais recentes.
Três perguntas a Olivia Zemor
Olivia Zemor, animadora da livraria e do movimento CAPJPO-EuroPalestine [movimento de apoio à causa palestiniana], respondeu às três perguntas que colocámos.
1. A Livraria Resistances tornou-se o alvo mais visado dos ataques de grupos sionistas armados em França; a que atribui esta reincidência?
Sim, não existem em França, e designadamente na região parisiense, muitas equivalentes à nossa livraria, que é também uma biblioteca e que dispõe de uma sala de conferências e de projecção de filmes. Nós acolhemos todas as semanas autores e militantes de diversas causas : FrançÁfrica, América Latina, Indocumentados, Movimento anti-guerra… mas igual e evidentemente militantes palestinianos ou opositores israelitas à política israelita (consulte as nossas conferências no sítio http://www.librairie-resistances.com), porque julgamos que a situação no Médio Oriente é um “nó” central, que determina a paz ou o caos no resto do mundo. O que não agrada ao lóbi israelita, que está particularmente agitado desde os massacres de Gaza, dada a vaga de indignação que suscitaram por todo o mundo e a campanha internacional de boicote que se lhe seguiu.
Um lugar de discussão, que milita contra a propaganda do « choque de civilizações », contra todas as formas de racismo, e designadamente contra a islamofobia que se desenvolve em França, e que resiste à chantagem do anti-semitismo, não agrada aos homens de mão fascistas da LDJ. Apoiam-se numa política de força brutal adoptada pelos dirigentes israelitas na região.
E são encorajados pela política francesa de colaboração com o terrorismo do Estado israelita. A França é o segundo fornecedor mundial de armas a Israel. Colabora na construção dos famosos aviões telecomandados, sem piloto, que largam bombas sobre as populações civis. Sem reagir, recebe fascistas como Lieberman. Portanto…
2. Tudo se passa como se a actividade destes bandos beneficiasse de uma certa impunidade, até mesmo de uma certa protecção que ultrapassa a simples tolerância… Como o explica?
Não o explico. Constatamo-lo. É um fenómeno muito grave que perdura no tempo. O Bétar e a LDJ dedicam-se a ataques físicos, a agressões a bens e a pessoas pacíficas, sem que as autoridades francesas, que conhecem perfeitamente os locais onde são ministrados os seus treinos militares, intervenham. Em Abril de 2002, um agente da polícia tinha sido apunhalado e gravemente ferido por um deles, que foi preso e depois extraditado para Israel, e o governo francês dissuadiu o agente de apresentar queixa, para “não provocar o anti-semitismo em França”. Como podem imaginar, é o resultado inverso que corre o risco de se produzir, quando por um lado não param de evocar a “tolerância zero” e de perseguir a “escumalha” nas periferias populares, e por outro lado deixam intensificar a actividade destes bandos fascistas. Estes conseguiram, há alguns anos, que a CAF [caixa de subsídio familiar] subsidiasse as suas “colónias de férias” para adolescentes em Israel (na realidade campos de treino militar). Nós fizemos a investigação e o [jornal] Canard Enchainé publicou os resultados. Isto dá uma ideia do grau de impunidade !
3. Pela primeira vez, a agressão de 3 de Julho congregou um grande número de organizações anti-imperialistas e anti-racistas na sua condenação. No entanto, a fraqueza do movimento de solidariedade com a Palestina contrasta com a retoma de simpatia pela causa junto da opinião pública, não é verdade ?
Sim, o aspecto positivo desta agressão, que faz recordar os “autos de fé” de determinados livros pelos nazis, é o facto de ter suscitado um apoio muito alargado e uma determinação para que se obtenha por fim a proibição desta associação tranquilamente instalada em França e que dispõe de instalações, de um sítio na internet e que atacou no último dia 23 de Junho a assembleia municipal de Vitry sur Seine [nos arredores de Paris]. Espero que a manifestação de quarta-feira, dia 8 de Julho, seja o ponto de partida para uma mobilização comum, que tem muitas vezes faltado.
(depoimento recolhido por Manuel Vaz, em Paris)
NR: as opiniões dos nossos entrevistados podem não corresponder necessariamente aos pontos de vista da redacção do MV.
Comentários dos leitores
•vaz 13/7/2009, 12:35
"Livraria atacada por um grupo judaico armado" — este titulo que encabeça as "3 perguntas a Olivia Zemor" não é muito feliz; é o "judaico" que causa problema.
Para muitos — inclusive a própria Olivia que é judia —, o sionismo é a negação do judaísmo, e consideram o judaísmo como um humanismo. Outro exemplo, a corrente judaica internacional Neturei Karta, opõe-se energicamente, fora e dentro de Israel, ao sionismo; o rabino Weiss, porta-voz de Neturei Karta, numa entrevista à cadeia arabe Al-Jazeera (22/06/2002), afirmava peremptório : "O nosso principio é que os judeus são contra o sionismo". Para saber mais sobre esta corrente antisionista no seio do judaismo, consultar: http://www.nkusa.org/
•a redacção 13/7/2009, 14:08
Inteiramente de acordo com o reparo feito por Manuel Vaz. O título do artigo foi alterado em conformidade.
A redacção